A nova Internet

Antes de começares, e para que tudo faça mais sentido, recomendo que leias este outro artigo acerca das origens e evolução da internet até 2014.

Web 2.0

A publicidade online não teve grande aceitação até 1996, altura em que empresas de publicidade concluiram que anúncios direcionados ao cibernauta seriam a única forma de captar a atenção das pessoas. Tal seria conseguido por meio da monitorização online dos utilizadores usando cookies de terceiros — pequenos pedaços de software alojados no teu navegador web por parte de aplicações que tenhas usado no passado. Um estudo de 1 milhão de websites populares revelou que perto de 90% deles troca informação com terceiros sem nos apercebermos, permitindo responder à questão "O que é que os seus clientes fazem fora do seu site ou app?" e comprometendo a noção de privacidade. Tal facto antecipou a publicidade comportamental dos dias de hoje, onde dados reunidos num perfil de utilizador, não só permitem inferir as suas características (físicas e psicológicas) como também tentam prever e modificar ações e crenças futuras.

A monitorização controlada por terceiros (e.g, através de cookies) permitiu aos ‘publicitários digitais’ seguirem os utilizadores site após site

A privacidade é importante porque protege-te da influência dos outros. Quanto mais as empresas sabem sobre ti, maior é o poder que têm sobre ti. Exemplos:

  • "Elas sabem com quem dormes porque tu e a pessoa com quem partilhas a cama têm os seus telefones por perto"

  • "Elas sabem se o teu companheiro está a ponderar deixar-te porque ele/a tem pesquisado online por advogados para divórcio"

  • "Elas monitorizam se pegas no telefone no meio da noite e pesquisas coisas como 'pagamento do empréstimo'"

  • "Elas deduzem o teu QI com base nas páginas que tu “gostas” no Facebook, e nos amigos que tens"

  • "Elas rastreiam os restaurantes que visitas e as compras que fazes"

  • "Elas sabem quão rápido conduzes, mesmo que não tenhas um carro inteligente, pois o teu telemóvel contém um acelerómetro"

  • "Elas conseguem calcular a tua esperança média de vida em função da velocidade a que caminhas, medida pelo teu telemóvel"

  • "Elas podem inferir se sofres de depressão pela forma como deslizas os dedos no ecrã do telemóvel"

  • "Se elas te identificarem como alguém viciado em jogos, poderão usar esse conhecimento para te levar de volta para o jogo"

Como bloquear cookies de terceiros no navegador Brave 👉🏻 brave://settings/cookies

Como permitir que a funcionalidade Brave Shields bloqueie rastreadores e anúncios no navegador Brave 👉🏻 brave://settings/shields

Se os consumidores tivessem a capacidade de tomar decisões importantes para a sua privacidade, o modelo de negócio da publicidade vigilante implodiría

Mas como capacitar as pessoas para o fazer ? Educando-as.

Eu sei que não é fácil, porque a maior parte das pessoas não se atreve a quebrar o status quo, concentrando-se e no que os mass media e sistemas de educação tradicionais têm a dizer. Mas eu nunca desistirei de tentar. Afinal, eu amo ensinar (independentemente do tamanho da minha audiência).

Se tens como objectivo passar a usar aplicações mais éticas, procura na web ou contacta-me a pedir recomendações – existem muitas alternativas às Big Tech e certamente algumas delas cumprirão os teus requisitos.

The Social Dilemma

"Este híbrido drama-documentário revela como as redes sociais estão a reprogramar a civilização, com especialistas em tecnologia fazendo soar o alarme relativamente às suas próprias criações". Também disponível para streaming/download em ChainSafe.

Estão a crescer exponencialmente os processos judiciais abertos por trabalhadores de empresas tecnológicas. Existiram mais de 100 processos de conhecimento público em 2019, alguns envolvendo milhares de pessoas. Corresponde a cerca de 3x e 9x o número de processos em 2018 e 2017, respectivamente

A Amazon e a Google foram os principais alvos de activismo tecnológico entre 2006 e 2019. Quando agrupadas, as empresas de taxi Uber, Lyft e Bolt seguiram-se na lista. Enquanto que a Amazon e as empresas de taxi foram maioritariamente denunciadas por trabalhadores de colarinho azul, a Google e a Microsoft foram-o por trabalhadores de colarinho branco (e.g, lê sobre a grande manifestação 2018 dos trabalhadores da Google neste artigo).

Tem-se discutido que as ações dos trabalhadores de colarinho branco têm sido motivadas por razões morais / éticas

Em 2019, a Facebook foi atingida por uma multa de 5 Biliões $, a mais elevada alguma vez cobrada pela Federal Trade Commission (FTC), por “enganarem” os utilizadores sobre a possibilidade de manter privada a sua informação pessoal, depois de um longo ano de investigações àcerca da fuga de dados pela Cambridge Analytica (ref). Cambridge Analytica é a empresa de análise de dados que trabalhou com a equipa eleitoral de Donald Trump (e com a campanha vencedora do Brexit) para recolher dados do Facebook de 50 milhões de eleitores Americanos, com o objectivo de influenciar, via anúncios políticos personalizados, a decisão dos eleitores nas urnas.

Em 2019, um grupo de criadores do YouTube processou a YouTube por alegada discriminação contra os seus vídeos sobre a LGBTQ, suprimindo a sua recomendação a outros utilizadores e dificultando a receita resultante de anúncios. O processo judicial alegou também que tanto as ferramentas de Machine Learning como os moderadores de conteúdo visavam, de forma injusta, canais que exibissem as palavras “gay”, “bisexual” ou “transgénero” no título (ref).

Em 2019, a Google concordou em pagar perto de 1 Bilião de Euros às autoridades Francesas para resolver um caso de fraude fiscal que começou 4 anos atrás (ref).

Em 2020, um grupo de YouTubers processou a YouTube e a sua empresa mãe, Google, reivindicando que utiliza ferramentas automáticas para "restringir, censurar e denegrir" com base na raça (ref).

Web 3.0

Do Airbnb ao YouTube, todos os dias usamos plataformas digitais privadas e tipicamente centralizadas, i.e controladas por uma única entidade (e.g, empresa global), o que apresenta sérios problemas relacionados com a sua infraestrutura, gestão, e economia. Recentemente, uma nova geração de tecnologias descentralizadas (Web3 ou Web 3.0) emergiu com o potencial de ultrapassar estes problemas estruturais.

A descentralização significa que o controle de uma rede informática (conceção, hospedagem, manutenção) é dividido entre múltiplas pessoas e organizações. Não há nenhum grupo com controle pleno e é necessário um alargado consenso para que se possa efectuar alguma alteração na rede. A PayPal é um bom exemplo de uma rede que não é descentralizada. A empresa PayPal tem controlo completo sobre tudo o que se passa na sua rede – eles podem congelar contas, impedir os utilizadores de aceder ao seu dinheiro, ou mesmo reverter transações.

Graças à democratização da potência de computação e armazenamento descentralizados, os utilizadores podem hoje aceder a uma internet mais fiável e justa, construida para as massas.

Melhor tecnologia, experiência de utilização, e educação dos utilizadores são chave para a próxima alteração de paradigma

A tecnologia blockchain (ver introdução em "Conceitos chave sobre redes descentralizadas e a tecnologia blockchain") tem permitido (i) novos instrumentos financeiros — criptomoedas (Bitcoin, Ethereum, Cardano, etc – mais de 13000 moedas já foram criadas até ao momento), (ii) a criação de contratos inteligentes, e (iii) o desenvolvimento de frameworks para programação de aplicações descentralizadas (dApps). Os modelos propostos são tipicamente alinhados com os seguintes vectores:

  • Distribuição de recursos

  • (Micro-)Pagamento aos utilizadores por ações realizadas

  • Minimização do uso de dados privados

Em 2015, Brewster Kahle, o fundador do Internet Archive, foi convocado para apresentar “uma internet inovadora” a cinco filantropos Americanos, e ele desafiou a comunidade tecnológica a construir uma nova e distribuida Web. Pouco tempo depois, pioneiros da Web Descentralizada (DWeb em Inglês) começaram a responder à chamada e em Junho de 2016 a Internet Archive acolheu o primeiro Decentralized Web Summit.

Princípios da DWeb

Se quiseres que o teu nome seja listado em getdweb.net/principles como apoiante, clica dentro da página para preencheres o formulário requerido.

01. Tecnologia para Ação Humana

Apoiamos tecnologia que sustente a segurança, privacidade e auto-determinação das pessoas

Desencorajamos jardins amuralhados

Procuramos relações par-a-par, em vez do controlo hierarquico e desequilíbrios de poder

As nossas tecnologias têm de (i) minimizar a vigilância e a manipulação do comportamento humano, (ii) ser optimizadas para beneficios sociais, e (iii) empoderar individuos para que decidam como os seus dados são usados

02. Benefícios Distribuídos

Acreditamos que as tecnologias descentralizadas trarão o máximo benefício à sociedade quando as premiações e reconhecimento do seu sucesso, monetários ou não, forem distribuídos entre aqueles que contribuiram para tal

Alta concentração de controlo organizacional é anti-ético para a web descentralizada

03. Respeito Mútuo

Defendemos práticas organizacionais transparentes e que activamente procurem equidade, confiança mútua, e respeito

04. Humanidade

O objectivo de contruir uma web descentralizada é o de proteger os Direitos Humanos e empoderar as pessoas

Apoiamos a adoção de mecanismos que mitiguem potenciais abusos

05. Consciência Ecológica

Os projectos devem ter como objectivo a minimização do dano ecológico

Conceitos chave sobre redes descentralizadas e a tecnologia blockchain

O vídeo seguinte é sobre a web descentralizada e as redes par-a-par (peer-to-peer ou p2p, em Inglês), também disponível para download em ChainSafe.

Uma vez aprendidos os conceitos anteriores, recomendo que vejas o vídeo introdutório seguinte acerca da tecnologia blockchain e Bitcoin, também disponível para download em ChainSafe.

O que são NFTs?

Projectos promissores da Web3

Authenticated Transport (AT) Protocol

Este é um protocolo open-source desenvolvido por Bluesky, PBLLC, uma empresa independente criada em 2021. No entanto, o projecto bluesky começou em 2019 após o co-fundador e ex-CEO do Twitter ter anunciando a sua intenção de financiar uma equipa para desenvolver um protocolo aberto para redes sociais descentralizadas.

A própria empresa Bluesky irá em breve lançar o seu protótipo de rede social baseada no referido protocolo. A app vai chamar-se Bluesky Social e se quiseres podes-te inscrever para a testar antes de ser lançada publicamente:

O protocolo é baseado numa arquitectura federativa, ou seja (milhares de) servidores em todo o Mundo vão alojar o software, e cada ‘serviço’ será administrado de forma voluntária e independente por uma única pessoa ou empresa. Os utilizadores da app poderão (i) escolher o(s) serviço(s) onde a sua conta será alojada, (ii) conectar-se com qualquer utilizador de qualquer outro serviço (baseado no mesmo protocolo), ou (iii) mudar de serviço sem perder a sua identidade, dados, e conexões.

Os fundadores e donos da Bluesky, PBLLC são:

Jay Graber tal como aparece em jaygraber.com
Jay Graber tal como aparece em jaygraber.com

Arweave

Arweave é um protocolo que permite guardar informação de forma permanente na web. O protocolo faz a correspondência entre pessoas com memória disponível em disco com aquelas que necessitam guardar algo na web de forma permanente. Tal é conseguido através de uma tecnologia descentralizada chamada blockweave.

Construída sobre este protocolo está a permaweb: Uma web de websites e aplicações que ‘vivem’ para sempre.

A comunidade Arweave tem desenvolvido um kit completo de ferramentas e serviços que permitem a construção de aplicações 100% descentralizadas alojadas na permaweb.

IPFS

Interplanetary File System (IPFS) é um projecto open-source (de código aberto), um protocolo par-a-par de arquivo e sistema de ficheiros desenvolvido por Protocol Labs. Em ciência da computação, a informação partilhada entre máquinas através de uma rede é gerida por regras e convenções estabelecidas em protocolos de comunicação. O IPFS usa conceitos que foram pioneiros aquando do lançamento do sistema de partilha de ficheiros BitTorrent e da moeda digital Bitcoin.

IPFS é um sistema distribuido para armazenar e aceder a ficheiros, websites, aplicações, e dados

Quando adicionas um ficheiro ao IPFS, ele é dividido em pedaços mais pequenos, identificados criptograficamente, e é-lhes dada uma impressão digital única naquele instante, chamada Content Identifier (CID). Esses pedaços de ficheiro, interconectados por metadados, são distribuídos por computadores de participantes na rede (conhecidos como nós, nodes em Inglês). Quando algum computador procura o teu ficheiro, ele pergunta aos outros nós quem guardou as partes do ficheiro com certo CID.

Cada nó na rede armazena apenas conteúdo no qual esteja interessado

Alterações a um ficheiro não substituem o ficheiro original, mas pedaços de ficheiro comuns entre versões do ficheiro podem ser reutilizados de modo a minimizar custos

Criptomoedas e Blockchains

Não, a nova Web NÃO É o Metaverso!!

Referências

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