A internet, se não for controlada, é uma máquina de gerar monopólios, um motor desenhado para concentrar poder, atenção etc nas mãos daqueles que já o têm, James Ball

O Monopólio

O supracitado aplica-se tanto a gigantes corporações como Google, Apple, Facebook, Amazon, Microsoft, etc (conhecidas como Big Tech), como a empresas de telecomunicações detentoras de cabos submarinos inter-continentais e/ou de redes de fibra óptica que levam a internet a nossas casas e equipamentos. Há uma sobreposição crescente entre esses tipos de empresas, pois o número de cabos submarinos detidos por empresas Big Tech tem aumentado na última década (ref).

Facebook e Google estão rapidamente a dominar os oceanos. Em 2020, ambas as empresas deterão cerca de 29% dos cabos submarinos em todo o Mundo (ref)

As gigantes tecnológicas adquirem ansiosamente plataformas de modo a neutralizar a potencial concorrência, com a Google a comprar o YouTube e o Waze, Facebook a comprar o Whatsapp e o Instagram, Amazon a comprar Goodreads e Twitch, e a Microsoft a adquirir o LinkedIn e o GitHub.

Regulação Anti-monopólio existe para evitar que negócios detenham demasiado poder centralizado sobre uma indústria

Publicidade contribui 90% para a receita da Google, alavancando a capitalização de mercado da sua empresa mãe (Alphabet) para cerca do PIB Mexicano

Legisladores aos níveis estaduais e federais podem agir para promover a concorrência, impedindo fusões de empresas, dividindo empresas grandes, e penalizando as empresas (com multas) por comportamento anti-competitivo.

A Facebook foi acusada de conduta anti-competitiva, incluindo a compra de empresas concorrentes e a cópia de funcionalidades de apps rivais

Google*, Amazon, e Apple foram também sujeitas a uma extensa supervisão anti-monopólio aberta pelo departamento de justiça dos EUA em Julho 2019*

A posição monopolista da Big Tech permite-os simplesmente ditar "Termos e Condições" (também conhecidos como "Termos de Serviço") às centenas de milhões de utilizadores, e estes, de modo a poder usar a app, têm apenas uma opção – clicar em ‘Eu aceito’. Outro elemeno que preocupa a União Europeia e países como a China, Índia, Rússia e Brasil, é que a maioria desses serviços são controlados por um único país – os EUA.

A próxima infografia, desenvolvida por Visual Capitalist (Abril 2020) e arquivada em https://archive.ph/mXabl, ilustra quanto tempo uma pessoa demora, em média, a ler todos os Termos de Serviço (TS) impostos pelas empresas Big Tech ou respectivas apps. O tempo de leitura foi calculado assumindo uma velocidade de 240 palavras/min, sendo o tamanho dos TS dado pelo número total de palavras.

Capitalismo Insustentável

O número de bilionários em 2021, segundo a Forbes (arquivado aqui), explodiu para inéditos 2755 (mais 660 do que em 2020). Todos juntos têm uma fortuna avaliada em 13.1 Triliões Dólares (Dólar Americano $) — era de 8 Triliões $ em 2020. Entre esses indivíduos, 6 dos 10 mais ricos têm a sua fonte de riqueza localizada na Big Tech (e.g, Amazon, Microsoft, Facebook, Google, Oracle).

1 Milhão (M) $ = 1 000 000 $

1 Bilião (B) $ = 1 000 000 000 $

1 Trilião (T) $ = 1 000 000 000 000 $

Deveria ser um crime (NMO - Na Minha Opinião) a acumulação de tamanhas quantidades de riqueza enquanto:

Cerca de 700 Milhões de pessoas no Mundo vivem, segundo estimativas, em pobreza extrema, i.e com menos de 1.90 $/dia (ref1, ref2)

Mais de 3 Biliões de pessoas no Mundo são pobres, i.e. vivem com menos de 5.50 $/dia (ref)

Sensivelmente 600 Milhões de pessoas a nível Global ainda defecam a céu aberto (ref)

Vamos fazer as contas:

• Hipótese:

  • Se em cada ano juntamos a fortuna líquida dos novos bilionários com excepção de 100 Milhões $/pessoa, para doação aos mais pobres no Mundo, conseguimos no mínimo 5.034 Triliões $/ano

    • 5 100 000 Milhões $/ano - 660 * 100 Milhões $/ano = 5 034 000 Milhões $/ano = 5.034 Triliões $/ano, onde 660 é o número de novos bilionários e 5.1 Triliões $ o valor da correspondente riqueza líquida na lista de 2021 da revista Forbes.

• Problema:

  • Com 5.034 Triliões $ disponíveis para doação em cada ano, quantas pessoas pobres poderão viver com um extra de 3.8 $/dia?

    • 3.8 $ = 2 x 1.9 $, onde 1.9 $ é o valor limite entre pobreza e pobreza extrema.

• Solução:

  • 3.8 $/dia/pessoa = 1387 $/ano/pessoa

  • 5 034 000 Milhões $/ano  /  1387 $/ano/pessoa = 3.629 Biliões de pessoas

    • 3.629 Biliões de pessoas é provavelmente mais que o nº actual de pobres no Mundo, i.e aqueles que vivem com menos de 5.50 $/dia.

    • nota que apenas os novos bilionários em cada ano entraram na equação – se os restantes mais ricos (incluindo milionários) fossem tidos em conta, o impacto seria ainda maior.

Se os mais ricos limitassem o valor da sua riqueza líquida a 100 Milhões $ e doassem o excedente aos mais pobres, seria seguramente possível erradicar a pobreza no Mundo (i.e. qualquer pessoa poder viver com pelo menos 5.50 $/dia). De seguida podes ver as posições de alguns bilionários ligados às Big Tech (principal fonte de riqueza) no ranking das pessoas mais ricas. Consideras sustentável ser um bilionário no Mundo em que vives hoje?

1. Jeff Bezos, Valor Líquido: 177 B $, Amazon

4. Bill Gates, Valor Líquido: 124 B $, Microsoft

5. Mark Zuckerberg, Valor Líquido: 97 B $, Facebook

8. Larry Page, Valor Líquido: 91.5 B $, Google

39. Zhang Yiming, Valor Líquido: 35.6 B $, TikTok

83. Pierre Omidyar, Valor Líquido: 21.4 B $, eBay, PayPal

95. Laurene Powell Jobs & family, Valor Líquido: 19 B $, Apple, Disney

112. Pavel Durov, Valor Líquido: 17.2 B $, Telegram

133. Eric Yuan & family, Valor Líquido: 14.9 B $, Zoom

154. Brian Chesky, Valor Líquido: 13.7 B $, Airbnb

173. Jack Dorsey, Valor Líquido: 12.5 B $, Twitter, Square

451. Martin Lorentzon, Valor Líquido: 6 B $, Spotify

655. Garrett Camp, Valor Líquido: 4.4 B $, Uber

A questão não é quanto eles já gastaram para melhorar o Mundo ou reduzir a pobreza; a questão é quanto não gastaram ao mesmo tempo que criam monopólios e aumentam a sua riqueza muito além do racionalmente necessário (NMO).

A maioria das empresas mencionadas em cima estão listadas no TOP 30 das empresas tecnológicas que mais causam dano, de acordo com a revista Slate (2020).

A Facebook dá “prioridade a lucros astronómicos em detrimento do bem-estar das pessoas”, causa dano a crianças, e está a desestabilizar democracias,

A Facebook tem mostrado mais divisão, mais dano, mais mentiras, mais ameaças, e mais guerras,

a denunciante e ex-empregada da Facebook Frances Haugen (na imagem acima) declarou no seu testemunho perante o Congresso Americano a 5 Out. 2021. Haugen divulgou dezenas de milhares de páginas de documentos da empresa (conhecidas como Facebook papers) que criaram a base de várias investigações.

Os Facebook Papers mostraram uma assustadora verdade – que empregados da empresa estavam cientes de vários impactos nefastos dos seus algoritmos sobre o bem-estar dos utilizadores. Os documentos também revelaram o quão pouco a empresa se preocupou pelo estado da democracia e Direitos Humanos na índia, Indonesia, Brasil, e outros países pós-colónia (ref).

O Facebook é um meio para propaganda governamental, assédio ou perseguição direcionados, recrutamento para terrorismo, manipulação emocional, e genocídio — uma arma histórica Mundial que vive, não no subsolo, mas num campus em Menlo Park (California) inspirado na Disneyland, Adrienne LaFrance

Ashley Gjovik, uma ex-directora de engenharia da Apple Inc, foi despedida em Set. 2021 após apresentar uma queixa alegando (i) assédio de um director, (ii) investigação retaliatória, e (iii) uma licença administrativa com vencimento forçada. Tudo começou quando Ashley se fez ouvir relativamente ao medo de o seu gabinete se ter tornado um local de trabalho perigoso devido à poluição (ref)

Em ChainSafe poderás ver um curto vídeo de Edward Snowden, em 2019, alertando para a vigilância baseada em dados.

The Social Dilemma

"Este híbrido drama-documentário revela como as redes sociais estão a reprogramar a civilização, com especialistas em tecnologia fazendo soar o alarme relativamente às suas próprias criações". Também disponível para streaming/download em ChainSafe.

Solução

Uma crescente comunidade internacional de programadores, tecnólogos, e profissionais financeiros está a trabalhar para reformular a internet através da utilização da tecnologia blockchain, e outras de código-aberto — visam a criação de um novo sistema que redistribua os dados e o poder de volta aos utilizadores. Lê mais em A nova Internet.

Eu não sou contra o capitalismo, mas definitivamente contra o elitismo e capitalismo desenfreado.

Referências