Jovens viciados em internet e o problema social

Na história do desenvolvimento tecnológico a sociedade vem se desenvolvendo em dois grupos distintos. Aqueles que admiram muitas vezes ingenuamente a tecnologia e os que temem seus efeitos. Muitos intelectuais desenvolveram teses caracterizando a tecnologia como maligna, alienadora da humanidade e destruidora de empregos e sociedades. Aparentemente os viciados em internet surgem por todo o planeta.

Alguns educadores defendem que o problema da falta de disciplina de seus alunos é decorrência da influência tecnológica.

Um estudo realizado pela Duke University em 2010 e noticiado no Terra Notícias concluiu que os computadores prejudicam o rendimento das crianças. Os resultados e conclusões destes pesquisadores são apenas uma parte do problema. Não é aconselhável esquecermos que toda tecnologia existente é na verdade uma ferramenta manipulada por pessoas. Ao afirmar que o computador prejudica o desempenho escolar fica ocultado a falta de orientação dos pais e professores.

Se a criança está tendo problemas com uma tecnologia, é mais provável que isso ocorra por causa da falta de orientação ou supervisão dos pais e professores, em vez de ser causada diretamente pelo equipamento tecnológico. Neste sentido, não existe tecnologia maligna e sim o uso inadequado da ferramenta tecnológica. Ponderar sobre o uso, aplicação, limitação de uma tecnologia e apontar para as pessoas ou empresas responsáveis, acarreta resultados diferentes daqueles encontrados pelos estudos que atribuem responsabilidade ao equipamento tecnológico.

É consenso acadêmico que somos seres histórico-sociais e isso significa entre outras coisas que a base do desenvolvimento humano ocorre sob tutela da sociedade, em outras palavras, a solução dos problemas tecnológicos pode ser encontrada no complexo relacionamento entre empresários, pais, educadores, governo e todos os envolvidos no fomento e uso destes equipamentos.

Fico com a impressão que deslocar o problema do caráter social para uma tecnologia maligna, permite apontar soluções de fácil aplicação, mas pouca eficiência. Em uma época de intensa individualidade, talvez não seja a mais agradável sugestão apontar para o fato da importância de cuidarmos uns dos outros, no entanto, esta parece ser a resposta mais eficiente no problema de relacionamento entre homem e máquina.Somos seres sociais que atualmente reivindicam o direito de individualidade extrema, algo que não parece muito saudável.

A tecnologia não é maligna, mas nossa relação com ela pode ser bastante perigosa. Não podemos omitir as consequências e nem disseminar ou promover a ingenuidade tecnológica. Assim como não é adequado culpar uma simples máquina. Um dos fenômenos que impressiona quando o assunto é tecnologia, se refere ao prejuízo psicológico que muitas pessoas estão vivenciando. Em especial, ao conviver com tecnologias como celulares, games e Internet. Muitas vezes é difícil acreditar nos danos que um simples computador ou videogame pode proporcionar. Ingenuamente muitas pessoas tendem a comprar seus equipamentos assumindo uma postura totalmente positiva frente ao equipamento tecnológico.

O excesso de confiança e a ingenuidade tecnológica podem conduzir pais e filhos diretamente para uma armadilha bastante desagradável e dolorosa. A Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro inaugurou em 2010 o serviço gratuito para dependentes eletrônicos.

O fenômeno também está sendo pesquisado pelo departamento de psiquiatria da Unifesp. Através do Programa de orientação e atendimento ao dependente (Proad) e pelo Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática (NPPI) da PUC-SP. Segundo o instituto britânico Advances Psychiatric Treatment (2009), o fenômeno da dependência eletrônica é mundial, afetando de 8% a 10% da população usuária da tecnologia. Estima-se que o maior número de pessoas afetadas está na faixa entre 12 a 18 anos de idade.

Em maio de 2010 foi noticiado pela rede NBC a morte de uma menina sul-coreana cujos pais negligenciaram o cuidado ao passar 10 horas por dia em uma lan-house cuidando de um bebe virtual. O pai de 41 anos e a mãe de 25 foram ambos acometidos pela compulsão em um game virtual. Ironicamente este game simula o atendimento e cuidado de um bebê.

No Japão quatro adolescentes morreram de complicações físicas ao passarem dias em frente ao computador. Eles passaram a jogar sem alimentação adequada e apresentando privação do sono. No sul da china em uma clínica para viciados em internet um menino foi espancado até a morte. Segundo a Internet World Stats, em maio de 2010, o número de internautas no mundo ultrapassa 1,3 bilhão. Contabilizando uma média de 100 milhões de viciados nesta tecnologia.

Em geral as pessoas acometidas pelo vício tecnológico apresentam um comportamento que contempla ausência de outras fontes de lazer. Baixa qualidade dos relacionamentos, dificuldades no trabalho ou escola e crise de abstinência quando longe da tecnologia. Existem casos em que jovens viciados em internet chegam a roubar dinheiro para uso em Lan-House. Bem como, para manter ativo o plano de dados do celular.

O psiquiatra Fabio Barbirato, alerta que os pais devem limitar o contato dos filhos com estas tecnologias, permitindo o máximo de 2 horas por dia. Uma vez detectado sinais evidentes do vício, é aconselhável procurar por ajuda especializada.Para evitar este tipo de problema, os especialistas reforçam a importância da atenção familiar, o incentivo para atividades e convívio com pessoas fora do universo virtual, reforçando os laços sociais.

Além do problema associado aos distúrbios mentais, a tecnologia da informação oferece uma armadilha igualmente perigosa para crianças e adolescentes no âmbito da publicidade infantil.Estima-se que uma criança sem o acompanhamento de pais e educadores possa acabar desenvolvendo problemas sociais por conta dos estímulos distorcidos das estratégias publicitárias e mensagens existentes nos filmes e programas cujo intuito é promover o consumo irracional.

Novamente a solução se encontra nas relações sociais entre educadores, pais e governo. Relação dificultada pela necessidade extrema de individualização. Talvez devêssemos nos perguntar se a individualização tão estimulada pelos veículos de comunicação não seja uma forma inteligente de promover o consumo voraz irracional e garantir a omissão dos educadores e demais envolvidos na proteção à criança.

Alguns grupos lutam pela fiscalização e regulamentação da publicidade infantil e apontam como grande vilão as agências de comunicação, no entanto, parece que assim como ocorre com a tecnologia “maligna”, as pessoas estão omitindo o importante fato das relações sociais estarem sendo negligenciadas e o problema é transferido novamente para um único vilão. Mais informações acesse: https://depen...

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