Um dos eventos que ganha destaque em Wittgenstein é o fato do autor, no decorrer de sua vivência, modificar sua perspectiva e fazer duras críticas sobre sua primeira obra, o Tractatus. Wittgenstein percebeu que ao escrever o Tractatus no rigor formal da lógica, acabou afastado da realidade cotidiana e mesmo que uma linguagem formal perfeita fosse possível de ser desenvolvida, esta não teria sentido, não seria útil.
Como crítica de sua primeira obra, Wittgenstein escreve as investigações filosóficas, onde a perspectiva formal é refutada e o foco de suas reflexões passa para observação da prática cotidiana, permitindo novos caminhos para o pensamento, caminhos que irão promover uma inovadora forma de pensar o humano, onde a linguagem é tratada em sua complexidade como jogos de linguagem e é nestes jogos que a razão se forma e os homens se constituem enquanto seres pragmáticos, racionais, culturais, de interação e ação social, tornando-se a própria linguagem enquanto práxis social.
Na tradição cuja predominância é o raciocínio formal, o mundo é visto como algo que existe “em si” onde a estrutura é conhecida pela razão e depois transmitida aos outros por meio da linguagem, e o conhecimento é entendido como algo não lingüístico.
Para o Wittgenstein da Investigação Filosófica, não existe um mundo “em si” independente da linguagem. Só temos o mundo na linguagem, assim sendo, torna-se absurdo querer determinar a significação de expressões lingüísticas pela ordenação de palavras ou a realidade através de convenções, em outras palavras, a formalidade não se aplica nestes casos.
Entendendo o ser humano como constituinte e constituído pela linguagem é possível, ao analisar o processo da formação e uso desta linguagem, compreender com maior clareza a própria natureza humana e a complexidade que envolve esta questão, apontando nossas limitações e respondendo sobre o que podemos realmente conhecer e pensar.
Wittgenstein refuta a linguagem fenomenológica e aborda uma reflexão sobre uma linguagem física, de uso diário, cotidiano.
Através da reflexão promovida por Wittgenstein é possível apontar para alguns problemas atuais, entre eles, o problema da universalização no campo ético, do conceito de racionalidade universal e seu efeito, da fragilidade da fundamentação formal na interpretação universal do agir humano, entre outros.
Estes problemas se tornam mais evidentes quando observamos que a linguagem não é portadora de significado universal e sim uma prática diferenciada em cada grupo social distinto, onde a significação é tratada e compreendida regionalmente. Em outras palavras, a capacidade de comunicação é universal, no entanto, o uso e o significado atribuído ao que é comunicado é de caráter regional e constitui a compreensão do mundo e os critérios de verdade da região que as emprega.
Uma tribo no meio da Amazônia que entenda o mundo como sendo uma grande ilha suspensa pelo deus do vento e a sociedade moderna que entende o mundo como uma massa suspensa pela gravidade, são em ambos os casos uma percepção de mundo onde o significado “mundo” é totalmente diferente, não representa a mesma coisa.
São as diferentes regras da linguagem que determinam os diferentes significados de uma expressão, estas regras é que constituem os jogos de linguagem, jogos estes que constituem a razão e o direcionamento da percepção humana.
Os jogos de linguagem acentuam que nos diferentes contextos ocorrem diferentes regras que determinam o sentido das expressões lingüísticas. Interpretando a linguagem como possuidora de sentido através dos jogos de linguagem, e sendo as regras destes jogos entendidas somente através do aprendizado em sociedade, - convívio social - encontramos nas investigações filosóficas a constituição do humano em sua totalidade e complexidade enquanto práxis social.
Para compreender o fenômeno da práxis social e a constituição da razão, ou ainda, a formação do humano, torna-se necessário ultrapassar os limites da formalidade e adotar uma nova postura frente ao surgimento da constatação da existência dos jogos de linguagem, proporcionando um novo caminho para razão.
Para se aprofundar em Wittgenstein e melhor compreender suas ideias e reflexões, separamos para você alguns textos em PDF.
1 - Filosofia como análise da linguagem: Texto que aborda os principais aspectos da perspectiva wittgensteiniana. Ideal para quem está iniciando nos estudos sobre este autor.
2 - A concepção de filosofia de Wittgenstein: Esta é uma dissertação de mestrado que apresenta em maiores detalhes este autor e suas obras.
Referências:
MONK, Ray. Wittgenstein o dever do gênio. São Paulo: Companhia das letras, 1995.
HALLER, Rudolf. Wittgenstein e a filosofia austríaca: questões. São Paulo: Editora da universidade de São Paulo, 1990.
OLIVEIRA, Manfredo A. de. Reviravolta lingüístico-pragmática na filosofia contemporânea. 3 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
HINTIKKA, Merril B; Jaakko. Uma investigação sobre Wittgenstein. São Paulo: Papirus editora, 1994.