Não quero só sobreviver. E você?

Por vezes parece que somos um povo passivo que pouco interage com os problemas políticos, até arrisco comentar que, mesmo nas dificuldades individuais, a maioria das pessoas assume uma postura passiva diante dos problemas.

Passiva na medida em que se espera delegar para alguém uma ação que é necessariamente coletiva, é nossa responsabilidade.

Neste sentido, a percepção empresarial e de empreendedorismo parece ser superficial e pouco comprometida com resultados sociais quando comparado com outros países cuja sociedade é mais engajada no agir coletivo.

É possível considerar que este comportamento passivo seja um reflexo de nossa origem escrava e fruto do regime de repressão que nossa sociedade viveu durante a chamada “ditadura”. Aprendemos a sobreviver dias após dia, mas sobreviver não é progredir.

No comportamento de sobrevivência o direcionamento do raciocínio, percepção e postura são voltados para soluções imediatas, sem uma estratégia para resultados de longo prazo.

Observe que o sobrevivente vive preocupado em manter-se, não existe uma estratégia para qualidade de vida ou crescimento. Como a preocupação é individual, o sobrevivente não costuma atuar ou organizar-se em grupos e sofre de grande impaciência.

Seja uma reunião no congresso nacional ou o simples ato de votar, se não for obrigatório e punitivo em caso de ausência, existe uma tendência de apenas uma minoria comparecer.

Os sobreviventes não aparecem, estão trabalhando em seus afazeres sem tempo para se preocupar com o futuro.

Até nossos governantes trabalham para sobreviver e não para progredir e gerar qualidade de vida. Tributações altas e emergenciais, acordos internacionais sem estratégias bem elaboradas e por aí vai.

Vários foram os acordos internacionais que prejudicaram o mercado nacional e a culpa foi jogada na globalização, nossa tributação então, nem se fala. Eu acredito que não é a globalização, mas sim nosso comportamento sobrevivente e superficial que potencializa momentos de crise. Parece que negociamos errado, não sei qual é o certo, mas sei que não o fizemos.

O próprio ato de jogar a culpa em outra pessoa ou evento é coerente com o comportamento do sobrevivente, observe que precisar sobreviver é um problema de quem é vítima de alguém ou algum evento.

Para o sobrevivente sempre existe um culpado, que não seja ele. Um sobrevivente não pode ser responsabilizado, afinal ele está apenas tentando sobreviver. Vários são os exemplos do comportamento de sobrevivência, lembrando que sobreviver significa ser superficial e até egoísta. Um ladrão é ladrão porque precisa sobreviver.

Observe que somos um país tão sobrevivente que apenas alguns crimes, fraudes, e furtos são realmente punidos. Na contramão do desenvolvimento, 80% das novas empresas não completam seu ciclo de vida ao enfrentar altas cargas tributárias e uma gama variada de dificuldades, incluindo a falta de conhecimento administrativo dos empreendedores.

Teoricamente, ainda que exagerando um pouco, como ladrão teríamos 90% de possibilidade de sucesso, enquanto como empreendedores apenas 20%. Você já deve ter ouvido falar que a lei apóia os ladrões assim como os direitos humanos. Isso não é verdade. Tanto as leis como os direitos humanos foram criados para proteger os sobreviventes.

A sobrevivência é tão forte que até possuímos orgulho dela, o próprio governo e empresas privadas espalham campanhas na televisão e frases como “Sou brasileiro, não desisto nunca”, reforçando o comportamento de sobrevivência.

Não acredito que tenhamos de esquecer a sobrevivência, mas precisamos perceber que sobreviver é apenas uma pequena parte do processo. No Brasil uma pessoa que sobrevive por muito tempo é considerada herói. Em outras culturas (países) estas mesmas pessoas podem ser consideradas burras. Imagine ficar tanto tempo sem evoluir, sem novas alternativas, ali estagnadas apenas sobrevivendo.

Existem muitas teorias sobre como solucionar o problema político e social, eu particularmente acredito que ajudaria se conseguirmos diferenciar claramente o significado de sobreviver e progredir.

Na realidade também estou descobrindo aos poucos o significado do comportamento empreendedor voltado para o progresso, então assim como na sobrevivência, também posso estar equivocado quanto uma ou outra questão relacionada ao tema do progresso.

Dentro dos eventos que vivenciei até o momento, acredito que o progresso caminha no sentido contrário ao da sobrevivência, para progredir precisamos estar estimulados para atuar em grupos organizados e assumir responsabilidades de longo prazo.

A constatação de que uma pessoa sozinha é sobrevivente enquanto em grupo progride, me parece coerente. Imagino que os professores, independente da área de atuação, devam estimular de forma eficiente a participação social e o perfil empreendedor de seus alunos. Para que isso ocorra é importante que o orientador tenha claro domínio sobre o momento de sobreviver e as ações de longo prazo para progredir.

Como a solução para o sucesso de uma comunidade, está na minha opinião, relacionada com a mudança de comportamento e a formação dos futuros profissionais e membros ativos da sociedade, não consigo enxergar uma resposta de curto prazo.

Acredito que programas de incentivo dentro das escolas são fundamentais, o difícil é convencer os administradores e diretores das necessidades emergentes para uma educação centrada em projetos de longo prazo e ampla comunicação. Aos empresários cairia bem apoiar e participar de programas bem elaborados que mostrem resultados de capacitação e possibilitem aos indivíduos buscarem o progresso e não a simples sobrevivência.

Gostaria de atentar para o fato do progresso só ocorrer em grupos, isso significa que só poderemos progredir se nossos colegas e amigos também progredirem. Em resumo, precisamos estar rodeados de pessoas comprometidas com o sucesso para evoluirmos.

Enquanto não nos percebermos como pessoas e governantes comprometidos com o progresso, ser empreendedor neste país vai continuar sendo uma tarefa muito sofrida, os nossos governantes vão continuar a nos sufocar com mentiras, corrupção, altas taxas em impostos absurdos.

Não importa quem vamos eleger como vilão ou culpado dos nossos problemas sociais e empresariais, se não pararmos com a cultura do sobrevivente, não existirá progresso real. Este para acontecer depende de ações concretas em coletividade.

Não quero sobreviver, quero progredir. E você?

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