Quem lucra com o medo coletivo?

Muita gente lucrou com o fim do mundo, tipo o que ocorreu no ano de 2012. Seitas apocalípticas ganharam fôlego, novos adeptos e ótimas doações, o cinema faturou muito com o tema e as televisões ganharam audiência quando abordaram o assunto. Em uma época em que conseguir chamar a atenção pode ser decisivo para os negócios, o tema “fim do mundo” esteve presente durante todo o ano de 2012 sendo um dos assunto mais abordados.

No entanto, o lucro de alguns pode resultar em sofrimento para outros. Algumas famílias doaram suas casas e todos os pertences para adquirirem o direito de ficarem nos templos rezando pela salvação enquanto aguardavam pelo fim do mundo. Empresas especializadas incentivaram o medo como estratégia de marketing para vender equipamentos de sobrevivência e a construção de abrigos subterrâneos. Pessoas pediram demissão de seus empregos para esperar em casa com seus familiares o fatídico dia final. Crianças apresentaram algumas consequências psicológicas devido a grande exposição do tema, alguns pais questionam se devem ou não matar seus filhos para evitar o sofrimento deles frente a iminente catástrofe que fora anunciada naquele ano de 2012.

É interessante observar como um tema que já foi abordado inúmeras vezes por séculos ainda pode ser tão lucrativo e persuasivo. Também pode ser interessante registrar que na impossibilidade do mundo acabar na data prevista, geralmente esta é transferida e novos investimentos se farão necessários por parte daqueles que acreditam no assunto. Mantendo o mercado apocalíptico lucrativo por mais algum tempo. Certamente, um dia o mundo acaba.

Enquanto isso não ocorre, espalhar o medo e gerar insegurança de diversas formas torna-se algo muito lucrativo para várias instituições. Incluindo, ao que parece, nossa imprensa.

Segundo Barry Glassner, autor do livro “Cultura do Medo”. O crime parece ser maior do que realmente é. Enquanto ele cai nas estatísticas em 20 por cento, as notícias sobre a violência aumentam 600 por cento. Para esse autor, os números da criminalidade, as drogas e a gravidez precoce deveriam assustar menos do que a poluição e a má distribuição de renda. Em seu livro ele apresenta evidências sobre um imprensa que produz enganosa teia de perigos e pavores que se tornam o alvo da paranoia da sociedade, que se torna vítima de um sistema de pensamentos e hábitos avessos ao convívio humano. Porém, muito lucrativo.

Por que tememos cada vez mais o que deveríamos temer cada vez menos? crime, drogas, minorias, mães adolescentes, crianças assassinas, micróbios mutantes, acidentes de avião, fúria no trânsito e muito mais. Este é o tema abordado pelo livro Cultura do Medo, de Barry Glassner, traduzido por Laura Knapp e lançado pela editora Francis no ano de 2003.

De 2003 até hoje parece que as coisas pioraram. Em 2013 um artigo apresentado no congresso internacional de direito, buscou refletir, como o medo coletivo disseminado pela imprensa pode contribuir para a criminalidade. Será que a imprensa brasileira está incentivando a conduta criminosa? Segundo o escritor Mia Couto, há quem tenha medo que o medo acabe.

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