Feuerbach afirma ser Deus uma construção do homem, que primeiramente transporta para fora de si sua essência, depositando em Deus, para depois encontrá-la na negação. Neste sentido a teologia pode ser reduzida à antropologia onde o homem afirma em Deus o que ele nega em si mesmo, promovendo assim um relacionamento com sua própria essência.
O autor entende que a religião é a essência infantil da humanidade assim como a crença da revelação é também uma crença infantil e respeitável enquanto infantil, no entanto, quando a religião vai adquirindo o uso da razão ela se torna teologia fundamentada por uma filosofia especulativa, e como tal, é intencional e busca dar tudo a Deus empobrecendo e negando o homem.
O culto aos animais e à natureza em geral não nos mostra somente o estágio prático da cultura de um povo, mas também sua natureza teorética, seu estágio espiritual em geral; porque, enquanto o homem adora animais e plantas, não é ainda um homem, identifica-se pois com os animais e as plantas, estes são para eles ora seres humanos, ora sobre-humanos.
Para Feuerbach o homem deve afirmar-se em sua totalidade suplantando a Deus e se apropriando dos seus atributos que nunca deixaram de ser os da humanidade, desta forma, o homem se libertará de uma ficção alienadora e paralisante. Negando a essência de um Deus transcendente e pessoal, Feuerbach se opõe à concepção cristã de divindade, ocasião em que assume uma postura denominada de ateísmo antropológico.
O ateísmo antropológico expressado por Feuerbach tem como principal argumento o fato da religião ser algo especificamente humano e por isso possui sua razão de ser na essência do homem, sendo assim, é a percepção desta essência humana universal o fundamento e o objeto da religião, onde, o homem cria Deus conforme a sua imagem e a teologia se torna uma mina de mentiras e ilusões perniciosas, pelas diferenças que estabelece entre Deus e os homens que em estado de subordinação devem obediência a um ser superior puramente ilusório.
A água é um produto natural indispensável ao homem; o vinho e o pão são produtos naturais transformados pelo homem, mas também são importantes para sua sobrevivência. Assim, ele comenta, adoramos na água a pura energia natural, no vinho e pão a energia sobrenatural do espírito, da consciência, do homem.
Esta ilusão se fundamenta não só na idéia de Deus, mas também na crença da vida eterna, na ressurreição e no além, negando desta forma as necessidades humanas e oferecendo ilusões que distanciam os homens de suas tarefas cotidianas, afastando-lhes da realidade concreta por conta da espera de um mundo imaginário, neste sentido, a teologia é um esvaziamento do homem que, pensando em Deus pensa apenas a si mesmo de uma forma alienada.
A respeito da influência de Feuerbach Urbano Zilles afirma que: Tornou-se o pai do ateísmo moderno. Sua influência passa, através de K. Marx, F. Engels, M. Stirner a F. W. Nietzsche até concepções imanentistas do homem nas filosofias contemporâneas, na idéia de que o homem só é homem na relação com o tu anunciam-se, outrossim, motivos das filosofias da existência e do personalismo contemporâneo.
O ateísmo de Feuerbach é excludente já que tem como proposta aceitar ou o homem ou Deus, neste sentido, o autor opta pela afirmação do homem e conseqüentemente pela negação de Deus, onde para Feuerbach, a essência humana universal é percebida no gênero humano enquanto comunidade e relação social, ou seja, é das características genéricas que constituem a humanidade do homem enquanto sociedade que observamos a essência humana universal. O autor entende que esta essência humana é constituída de razão, vontade e pelo coração.
Tais características não são plenas, mas o homem participa e se define mediante elas, onde se constituem os princípios que animam e determinam o homem.
Religião enquanto movimento antropológico assume um aspecto positivo por ser um momento no processo de conscientização humana em direção a valorização do humano como ser histórico-social. No entanto é negativo enquanto teologia por caracterizar-se como filosofia especulativa e intencional, perdendo a essência infantil da humanidade, proporcionando desta forma, uma dominação alienadora.
Sobre esta questão, Manfredo A. de Oliveira afirma que: Neste sentido, mesmo que tudo se encaminhe para uma negação, o levantamento da questão de Deus se manifesta como momento necessário no processo de auto-realização do homem, já que em virtude da tensão existencial entre indivíduo e espécie, só através da reflexão conscientizadora o homem se vai poder liberar da ilusão alienante da religião.
Este movimento de ascensão do homem constituído na sua historicidade e no processo de suas relações sociais, valorizando a subjetividade, é o ponto culminante da filosofia de Feuerbach com seu antropocentrismo radical, onde o homem é a medida de todas as coisas e da própria realidade. No entanto, existem outras interpretações sobre Feuerbach.
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