O estado padrão da existência online é como um mercado anônimo de ideias, um livre mercado de competição memética. O think tank digital de uma rede suficientemente pseudônima, que mantém a “advocacia do diabo” como uma constante, e que consistentemente obtém análises precisas ao desassociar o conteúdo do contexto: para se envolver adequadamente com uma ideia, você precisa separá-la de seu proponente, permitindo que ela se sustente por si só.
A identidade biológica não é apenas irrelevante, mas antitética a esse ecossistema. Um fórum sem anonimização não pode funcionar como um verdadeiro mercado de ideias. Os entrantes baterão à porta como um Cavalo de Troia woke, injetando políticas de identidade para corrigir alguma discriminação invisível, mas não há raça ou classe no mundo digital, apenas liberdades e invasões sobre elas.
Fica ainda mais claro que a política identitária promove a exclusão, não a inclusão, ao introduzir vetores previamente inexistentes para discriminar positiva e negativamente indivíduos anônimos. A inclusão máxima é encontrada na eliminação da identidade, que é o estado padrão da comunicação online pseudônima:
Não há discriminação quando não há identidade.
Anônimos não têm identidade.
Crypto é anônimo.
Logo, não há discriminação em Crypto.
A reintrodução da identidade biológica e da política associada a ela é contraproducente para o fim de eliminar a discriminação. Nunca ouvi e não consigo pensar em nenhuma justificativa de boa-fé para que os defensores da política identitária reintroduzam-na (e a discriminação que se segue) em espaços anônimos, onde ela já transcendeu, mas é óbvio que a utilidade proveniente de se auto doxar, a censura e as oportunidades de alavancagem de entrada são de interesse do Estado.
Também acredito que o avanço da tecnologia (VR, AR e deepfaking baseado em IA) se desenvolverá rapidamente para uma infraestrutura abrangente, que apresente uma identidade ativamente anônima e reconfigurada. “Catfishing” será a nova norma, com capacidade de alterar plausivelmente toda a apresentação de gênero como seu teste final; e, em breve, será tão fácil quanto trocar uma foto de perfil: filtros poderosos de IA sobre selfies 2D já são eficazes em modificar rostos, mesmo em vídeos de tempo real, e avatares de realidade virtual 3D obscurecem totalmente a forma física na socialização digital no metaverso, enquanto os modificadores de voz primitiva de IA tornam-se cada vez mais eficazes e acessíveis, até que eventualmente isso tudo dará lugar à total conversão do speech-to-text-to-speech para a anonimização total e a plausibilidade do pós-gênero; e, olhando mais para o futuro, podemos especular acerca de uma sobreposição da realidade aumentada onipresente de avatares personalizados obscurecendo completamente as formas humanas.
Se você acredita que isso é bom ou ruim, não é relevante, é apenas o destino que seguimos, e a única coisa que você pode fazer é desenvolver ferramentas conceituais para engajar-se conscientemente - o que certamente complicará ainda mais as tentativas de novos entrantes em reintroduzir a identidade material no discurso. É interessante, entretanto, que eles se unam contra essas novas tecnologias; afinal, pode-se supor que isso deveria ter sido antecipado por qualquer pessoa preocupada com políticas de identidades oprimidas tanto quanto vem sendo prontamente adotado por jovens dessas mesmas categorias; sendo o mesmo verdade para o anonimato. Logo, suspeito da desonestidade das críticas dos defensores de políticas identitárias.
Independentemente disso, para muitos que estão lendo, como NEETs, já somos parte da pós-identidade online, já a transcendemos, já vivemos isso. Nossas existências virtuais são como ciborgues digitais: amorfas, performáticas, desvinculadas de qualquer biorealidade. E, conhecendo a teleologia da tecnologia, sabemos que somos simplesmente a vanguarda: sabemos que a Janela de normalidade de Overton continuará a progredir rapidamente em direção a uma experiência digital universal, a subsunção total do real para o digital, até que seja realidade para todos vocês também.
Que assim seja.
Este texto é uma tradução livre, e possui algumas alterações por parte do tradutor para fins de melhor entendimento em razão do contexto local.
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