Luisa Todi

English version here.

Luísa Todi! A história dela é muito interessante e triste… o final merecia mais glória…

Nascida em uma família de poucos recursos, ela ficou rica e famosa! Foi idolatrado!

Quando criança, ela foi salva de ser enterrada viva porque se escondeu dentro de um forno de pão! Já adulta, salvou-se de se afogar no Douro porque um remo a alcançou e ela agarrou-se a ele!

Depois de conviver com reis e imperadores por toda a Europa, morreu pobre, em Lisboa, e o seu túmulo está esquecido, sob as fundações de um edifício na Rua do Alecrim.

Pelo casamento adquiriu o sobrenome pelo qual ficaria conhecida: Todi.

Luísa era a terceira filha de uma modesta professora de música que, com 5 bocas para alimentar, decidiu deixar a cidade de Setúbal e ir para Lisboa, onde arranjou trabalho como copista de orquestra no teatro do Bairro Alto.

Nascida em 1753, conta-se que se salvou do terramoto de 1755 ao esconder-se dentro de um forno de pão que lhe servia de proteção.

Com a chegada do pai a Lisboa, Luísa e as 2 irmãs ficam a conhecer o ambiente teatral e deslumbram-se. Todas elas se tornarão atrizes e cantoras de primeira grandeza!

Luísa estreia-se num pequeno papel de Tartufo de Moliére, enquanto a irmã, Cecília, tem o papel principal.

Com a vinda para Lisboa de uma companhia de ópera italiana, Luísa e o 1º violino da respetiva Orquestra apaixonaram-se e casaram. Assim Luísa levou o apelido do marido, Saverio Todi!

Após um período de 6 anos a residir no Porto, com a preparação obtida por intensas aulas de canto e muitas atuações, iniciou a sua carreira fora do país.

Primeiro em Londres, ainda algo imaturo e com sucesso muito limitado, mas depois em Espanha e Paris, onde triunfou.

Lá, em Paris, participou dos Concertos Espirituais, que aconteciam regularmente no Palácio das Tulherias e, logo em sua primeira apresentação, impressionou tanto que a notícia se espalhou como fogo na alta sociedade francesa, que afluiu em massa ao considerandos seguintes, que esgotaram. imediatamente.

Torna-se também presença assídua em Versalhes onde apresenta os chamados Concertos da Rainha.

Todi, nessa altura, começou a receber convites que não podia recusar de todos os lados e o gerente dos Concertos Espirituais, para a prender, criou um fenómeno de diversão, que mais tarde veio a ser utilizado futuramente para promover o popularidade de outros cantores:

Convida a grande cantora alemã Gertrude Elisabeth Mara para seus Concertos Espirituais. 

Simultaneamente, a esse convite, circula o boato de que existe uma grande rivalidade entre os dois e faz com que se apresentem alternadamente nos seus concertos.

O público precipita-se numa avalanche, a crítica só sabe dizer que ambos são magníficos e até se formam dois partidos, Os Todistas e Os Maristas.

O assunto se torna o principal tema de debate nos salões da capital francesa. No final, Luísa Todi acaba por ser considerada pelos franceses como “A Cantora da Nação”.

No entanto, Paris e Itália, onde também se apresentava regularmente, já não bastavam para Luísa Todi que, sendo admiradora da imperatriz Catarina II da Rússia, parte para aquele país, mesmo sem ter contrato, com a palavra do director da sendo suficientes os Teatros Russos, ele poderia fazer dois shows para a Imperatriz.

Diz-se que o show de despedida em Paris foi um evento nunca visto e não mais repetido. Houve uma loucura colectiva na aquisição de bilhetes, que chegaram a preços astronómicos e no final da sua apresentação, com as flores e os presentes recebidos (incluindo inúmeras jóias), Luísa Todi encheu completamente duas salas.

Sua estada em São Petersburgo também foi um sucesso (as duas apresentações originalmente planejadas se transformaram em uma estada de quatro anos), mas foi um sucesso um tanto conturbado! Logo após o primeiro show, Catarina II ficou tão impressionada que nomeou Todi professor de canto das princesas imperiais, criando a inimizade do conselheiro musical da corte russa, o compositor italiano Giuseppi Sarti.

Para tentar desmoralizar Todi junto à Imperatriz, Sarti teve a ideia de chamar a Rússia do castrati mais famoso da época, chamado Marchesi, que era considerado o sucessor do grande Farinelli.

A ideia era colocar os dois lado a lado, para que o famoso Il Marchesino, como era chamada a cantora, acompanhasse Luísa Todi numa ópera do próprio Sarti.

No entanto, o que Sarti conseguiu foi uma performance extraordinária e tanto Catarina como toda a Corte acabaram por se deslumbrar pelos dois cantores e até pelo próprio compositor.

A partir daí Sarti deixou Luísa em paz, porém seus problemas continuaram!

Apesar de ganhar fortunas na Rússia, o marido de Luísa perdia todo o seu dinheiro no jogo e Luísa não teve escolha senão pedir mais e mais dinheiro a Catarina.

Naturalmente, Catarina II acabou por pôr fim à situação e Luísa Todi e o marido partiram para a Alemanha e França.

Em Bonn, é homenageada com uma atuação do jovem pianista Ludwig van Beethoven e após uma temporada em Paris e novas apresentações na Alemanha, instala-se em Veneza, com contrato no Teatro San Samuele.

Em sua primeira apresentação, ela começou a deixar o público deslumbrado ao subir ao palco com as joias, colar e tiara que lhe haviam sido oferecidos por Catarina da Rússia, mas todos os presentes ficaram ainda mais surpresos, assim que ela começou a cantar, fingindo ter feito de imediato o público e a crítica renderem-se por completo à sua voz, de tal forma que a época lírica italiana de 1790-1791 ficou conhecida como "o Ano de Todi".

Durante aquela estada em Veneza, a saúde de seus olhos piorou seriamente, e ela foi forçada a interromper suas apresentações, para grande consternação do público.

Centenas de poemas foram escritos em sua homenagem, efígies da cantora foram gravadas e houve reações populares que beiraram a histeria coletiva.

Na volta ao teatro, são os próprios admiradores que o enfeitam e iluminam, e quando ele entra no palco, toda a plateia está de pé, emocionada, em aplausos que parecem não ter fim.

Tantas pessoas queriam ouvir Luísa para este recital que o Teatro teve de manter as portas abertas para que ela fosse ouvida na praça em frente e nas ruas laterais, onde era ouvida em silêncio religioso.

Actua também noutras cidades italianas e em Madrid, até regressar ao Porto onde actua até aos 50 anos, altura em que morre o marido e deixa de cantar, passando a usar luto total para sempre.

Seis anos depois, durante as invasões napoleónicas, Luísa e as suas filhas, seguindo o resto da população do Porto, fogem e, ao mesmo tempo que ocorre o desastre da Ponte das Barcas, Luísa cai ao rio, do barco onde estava , levando consigo uma sacola com todo o seu dinheiro e a maior parte de suas joias.

A criada entrega-lhe um remo do barco, Luísa salva-se, mas perde todos os bens que transportava no Douro. Ficam algumas joias na posse de uma filha, entretanto baleada por soldados invasores.

Esta ferida não lhes permitiu continuar a fuga e Luísa, as filhas e a empregada decidem render-se aos franceses. Mas é o próprio General Soult que, ao vê-la, a reconhece como a “Cantora da Nação” e a leva sob sua proteção pessoal.

Pouco depois, Luísa parte para Lisboa, onde viverá o resto dos seus dias.

As poucas joias que lhe restavam permitiram-lhe instalar-se numa modesta casa do Bairro Alto e comer.

Esquecida do público português, recebe de vez em quando a visita dos amigos estrangeiros, que gostam de a voltar a ver. Pouco a pouco, estes também desaparecerão.

Aos 60 anos, perdeu a visão de um dos olhos e, 9 anos depois, ficará totalmente cego.

E é assim que, sozinha, pobre e na escuridão, esta mulher que já conviveu com as personalidades mais importantes do mundo, termina os seus dias. Tinha quase 81 anos quando morreu em Lisboa, sendo sepultada no cemitério então contíguo à Igreja da Encarnação no Chiado.

Diz-se que ela foi enterrada sem identificação, mas parece que não é assim: Transcrevo agora o que disse, a esse respeito, o biógrafo da artista, Mário Moreau:

“A área da igreja onde Luísa Todi foi sepultada deixou posteriormente de fazer parte do templo e passou a ser ocupada por um bengaleiro que tinha o número 78 da Rua do Alecrim. Vários autores escreveram que o cantor foi enterrado sem qualquer indicação do local. Há, no entanto, razões para supor que isso não corresponde à verdade. Com efeito, o jornal República publicou um artigo em que se fazia referência a uma declaração do então proprietário do referido chapelaria. por Luísa Todi. A inscrição estava um pouco ausente, mas não tanto que o nome do cantor não pudesse ser visto claramente. Na altura, ainda se esboçava a ideia de recuperar a lápide e dar ao grande artista um enterro digno. Mas, como seria de esperar, nada foi feito a esse respeito. De nossa parte, entendemos que os fins visados ​​continuam a justificar largamente a necessária pesquisa, por mais improvável que alguém possa considerar o sucesso do empreendimento e quaisquer que sejam as objeções que possam ser levantadas. Em qualquer país que valorizasse devidamente suas maiores figuras, tal tarefa já teria sido cumprida há muito tempo. Em nossa terra, porém, pouco mais se conseguiu até agora do que um sorriso irônico e um encolher de ombros. A Câmara Municipal de Lisboa está interessada em recuperar a lápide de Luísa Todi e dar à nossa grande artista o enterro que ela merece?”

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