English version here.
GPS 38.5244191077699, -8.89529832270449
Salientam-se no respetivo cunhai, sob a imposta de pedra que separa o rés do chão do piso superior, três cabeças esculpidas.
A maior apresenta-se como que sublinhada por um listel no qual está a seguinte inscrição latina: “ESPER ATHE DEO” [Espero em Deus].No dintel da porta com o número de polícia 44 da Rua Fran Pacheco está outra cabeça com inscrição, igualmente em latim medieval: “SI DEUS PRO NOBIS QUIS CONTRA NOS” [Se Deus está connosco, quem poderá ser contra nós].
O conjunto escultórico de interpretação controversa vem ligado, tradicionalmente, à tentativa de assassinato de D. João II (rei entre 1481 e 1495), quando este caminhava na procissão do Corpus Christi, a 22 de agosto de 1484.
O atentado fora urdido por seu cunhado D. Diogo, Duque de Viseu, o qual, após descoberto, foi morto pelo próprio monarca.
A histórica Casa das Quatro Cabeças Reabe como alojamento, depois de uma profunda recuperação liderada pela Câmara Municipal, que incluiu o restauro e conservação da fachada do edifício com mais de cinco séculos.
A reabertura da Casa das Quatro Cabeças, imóvel de Interesse Municipal desde 1977, implantado no centro histórico da cidade, no Bairro de Troino, pôs fim ao cenário de degradação e abandono, servindo agora como extensão da Casa do Largo – Pousada da Juventude.
Localizada na esquina entre a Rua Fran Paxeco e a Travessa do Carmo, a Casa das Quatro Cabeças foi utilizada, durante vários anos, como habitação em forma de arrendamento, não tendo tido qualquer tipo de manutenção pelos sucessivos proprietários.
“Era imprescindível preservar e requalificar este forte elemento da identidade setubalense”, realçou a presidente da autarquia, ao frisar que, “com a integridade estrutural comprometida, e em face da inexistência de condições de habitabilidade, a Câmara Municipal requereu, com caráter de urgência, a declaração de utilidade pública da expropriação do imóvel e a respetiva posse administrativa”.
O processo foi, por isso, longo e a intervenção global, passando pela reconstrução do interior e reabilitação e preservação do exterior de um edifício com mais de cinco séculos de história e famoso pelas quatro cabeças esculpidas em diferentes pontos da fachada.
Antes da reabilitação uma equipa de arqueologia da autarquia efetuou trabalhos de estudo e investigação no interior e exterior do imóvel de três pisos.
A lenda que justifica as quatro cabeças esculpidas na fachada, que dão nome ao edifício, ganhou força de verdade com o passar dos anos, acreditando-se que as pequenas esculturas remetem para a tentativa de regicídio frustrada que, naquela mesma zona da cidade, teve lugar contra D. João II.
história diz que a única cabeça intacta no final desse episódio foi a do monarca, acabando os quatro protagonistas, incluindo el-rei, cinzelados em pedra, numa espécie de pedagogia eterna.