Watch to Earn e as novas possibilidades em transmissões

2023 mal começou e já tivemos duas iniciativas envolvendo blockchain e transmissões que chamaram a atenção. Apesar de ambas terem sido classificadas como “watch to earn”, as duas foram bem diferentes, o que mostra que há um leque de possibilidades para donos de direitos explorarem e tornarem seus produtos mais atrativos para os espectadores.

A Warner Bros. Discovery Sports lançou o B/R Watch 2 Earn durante o Inside the NBA, seu famoso programa de estúdio sobre a liga de basquete. Basicamente, ao longo do programa perguntas aparecem na tela (sobre a história do Inside the NBA e sobre a liga) com um QR Code redirecionando para um site no qual as pessoas podem respondê-las. Respostas certas dão tokens, que podem ser trocados por NFTs de highlights do programa e outros prêmios, como produtos oficiais, saudações dos integrantes e idas ao estúdio. No futuro, será lançado um marketplace para permitir a compra e venda dos tokens (e os prêmios relacionados a eles).

Se analisarmos somente o game de perguntas e respostas, não estamos falando de novidade alguma; trata-se de algo que é feito há anos na TV. Levar os espectadores para um ambiente no qual se possa conhecê-los de fato, captando seus dados, e premiá-los por isso não demanda a necessidade de se incluir tokens ou qualquer outro elemento de web3. Porém, ao tornar estes prêmios colecionáveis digitais, vinculados a benefícios reais e virtuais, e, principalmente, permitir que os mesmos sejam comercializados, dando a quem os possui uma chance de remuneração, é um atrativo a mais para que aqueles/aquelas que estão assistindo se motivem a engajar. E para quem está transmitindo, pode ser ainda uma nova fonte de receita advinda deste mercado secundário. Isto sem contar as possibilidades que se abrem a partir destes tokens, que vão desde a criação de uma simples comunidade de fãs, passando pela co-criação de conteúdos com estes fãs até programas de fidelidade envolvendo parceiros comerciais.

Claro, tudo isto dá trabalho e demanda uma equipe dedicada para tirar do papel e executar, mas em um mundo onde a disputa pela atenção é cada vez maior e todos lutam basicamente com as mesmas armas (digital ads, conteúdos similares nos mesmos feeds de redes sociais…), ter a possibilidade de ir além e construir um relacionamento mais próximo de longo prazo com os espectadores é algo bastante valioso e que vale a pena.

A outra iniciativa foi da Myco, uma plataforma de streaming web3 baseada em Londres e Dubai, que foi lançada já com um mecanismo de watch to earn, no qual as pessoas são remuneradas com tokens pelo tempo que dedicam assistindo a um vídeo (veja na imagem abaixo). A Myco comprou os direitos exclusivos para o Oriente Médio e o Norte da África dos jogos entre Índia e Bangladesh no cricket. Por ser um esporte muito popular na região — especialmente pelo número de indianos, bengaleses e paquistaneses vivendo por lá -, as transmissões foram um sucesso de audiência e os espectadores ainda foram remunerados com o Mcontent, o token da plataforma, que pode ser trocado por moeda fiduciária. Ao todo, foram mais de US$26 mil em Mcontent distribuídos a quem assistiu aos duelos, dinheiro este vindo dos patrocinadores.

Remuneração no Myco

Novamente, se estamos vivendo uma era de profusão de conteúdos de todos os tipos, a todo momento, acessíveis na palma da nossa mão, ter maneiras de tornarmos a transmissão ainda mais atrativa para as pessoas é um recurso importante. E uma remuneração pelo tempo e atenção despendidos pode ser um deles. Mesmo para os patrocinadores, muitas vezes as métricas para medir conversão de anúncios e o retorno do investimento são “cinzentas”, então por que não pensar em dividir ao menos parte da receita com quem está assistindo e demonstrando interesse por aquele conteúdo?

Claro que ter a TV ou qualquer outro aparelho ligado não quer dizer que a pessoa está de fato prestando atenção no que está acontecendo, especialmente no caso de um anúncio — como somos todos multitarefas atualmente, a maioria de nós está sempre caminhando sobre uma tinha tênue entre focar e desfocar a qualquer momento. Porém, de qualquer maneira, ter o aparelho ligado sem ter a certeza de que há atenção do(a) espectador(a) é muito melhor do que ter este(a) espectador(a) mudando de canal ou indo fazer outra coisa, porque aí de fato não há atenção mesmo.

Talvez uma combinação entre as duas modalidades de watch to earn descritas neste artigo seja uma boa solução: só de estar com o aparelho ligado, a pessoa é remunerada de acordo com o tempo que dedica àquele evento/conteúdo, mas, ao longo da transmissão, são colocados elementos interativos na tela, que não só dão os tokens comercializáveis vinculados a benefícios supracitados, como poderiam, por exemplo, aumentar a remuneração pela atenção despendida.

Estas são algumas ideias de como incluir web3 em transmissões. Lembre-se, web3 é sobre dar mais controle nas mãos de fãs e clientes, permitir que estes se sintam parte importante de uma iniciativa, estimulados não só a participar passivamente, mas contribuir de forma ativa. E na disputa acirrada pela atenção, isto pode ser um grande diferencial.

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