Igreja de Nossa Senhora da Encarnação

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GPS 38.71057742894441, -9.142779152432912

Para a edificação da Igreja da Encarnação em 1702, foi demolida parte da muralha fernandina (séc. XIV) e a torre situada a sul, tal como aconteceu para a Igreja do Loreto, do outro lado da rua. As duas igrejas marcavam, assim, uma das portas da cidade.

O templo inicial foi arrasado pelo terramoto de 1755 e restaurado em 1784 por Manuel de Sousa, de acordo com as orientações da arquitectura religiosa impostas pelo Marquês de Pombal no novo plano da Baixa. Na fachada neoclássica, com alguns elementos decorativos rocaille, podemos ver as imagens de Santa Catarina que faziam parte da antiga porta medieval.

No interior, de uma única nave, não deixe de ver, no altar-mor, uma magnífica escultura de Nossa Senhora da Encarnação, do escultor Machado de Castro.
Destaque ainda para a cobertura azulejar e para a pintura do tecto em perspectiva da autoria de Simão Caetano Nunes.

Descrição

Planta longitudinal composta pela justaposição de dois retângulos (nave e capela-mor), volumetria paralelepipédica e cobertura efetuada por telhado a duas águas. Alçado principal a norte, integralmente revestido a cantaria, ritmado por seis pilastras jónicas e composto por três corpos, dos quais se demarca o axial, ligeiramente saliente. O corpo central com pano de muro tripartido é rasgado, ao nível do embasamento, por três portais - um central, articulado com frontão mistilíneo interrompido e suportado por duas colunas sobre plinto, que integra baixo-relevo representando o Mistério da Encarnação, e dois laterais, superiormente rematados por ática, sobrepujada, cada uma, por nicho a albergar a figuração escultórica de Nossa Senhora do Loreto e de Nossa Senhora da Encarnação

O conjunto é encimado por três janelas de peito de verga recortada destacada, articuladas com varandim com guarda em balaustrada de cantaria e avental animado por painéis com emolduramentos decorativos escultóricos, em baixo-relevo. Os corpos laterais, análogos e estreitos, apresentam, cada um, uma sucessão de três janelas de peito, de diferentes morfologias e um óculo iluminante. O alçado é superiormente rematado por platibanda em muro ritmada por plintos com pináculos interrompida, ao nível do corpo central, por frontão triangular com cruz ao centro, sendo o tímpano animado por baixo-relevo alusivo ao Mistério da Encarnação. Alçado lateral este integralmente decorado com azulejo monocromo ritmado por frisos de cantaria e quatro janelões iluminantes de acentuado capialço, inscritos em arcos de volta perfeita. INTERIOR: predominantemente revestido com mármores, reconhecem-se duas entidades espaciais - nave e capela-mor - ambas de planta retangular com cobertura em abóbada de berço, diferenciadas, delimitadas por cornija, e animadas por pintura decorativa sobre tela representando, ao centro do teto da nave, a Anunciação. Coro-alto adossado à face interna da fachada, com guarda contra-curvada em balaustrada de mármore. Muros laterais ritmados, cada um, por quatro arcos de volta perfeita em cantaria intercalados por panos estreitos delimitados por pilastras compósitas e superiormente rematados por janelas iluminantes (presença de púlpito nos dois lados).

A arcaria inscreve altares laterais, sete dos quais são definidos por retábulos compostos por frontões interrompidos em estuque suportados por colunas, albergando ao centro, pintura sobre tela. Do lado da Epístola, altares dedicados à Rainha Santa Isabel, Santa Filomena, São José e Nossa Senhora de Fátima e do lado do Evangelho, a Santo António, Santa Teresinha, Anjo Custódio de Portugal e ao Sagrado Coração de Jesus. Este último corresponde à antiga Capela do Santíssimo, e consta de uma capela com gradeamento em serralharia dourada e cúpula octogonal em cantaria. Precede a capela-mor arco triunfal de volta perfeita em cantaria animado por cartela com as armas do reino. Na capela-mor, profunda, reconhece-se no muro de topo, retábulo-mor em cantaria composto por duplas colunas compósitas que suportam remate coroado por baixo relevo alusivo ao Espírito Santo, delimitado colateralmente por dois anjos tenentes. Ao centro e a preceder camarim a albergar trono metálico, reconhece-se a figuração escultórica de Nossa Senhora da Encarnação.

Cronologia

1696, 27 fevereiro - falecimento de D. Nuno da Cunha Ataíde, sepultado na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, deixando como herdeira a sua esposa, D. Elvira Maria de Vilhena, a qual mandou erigir uma igreja para Paróquia da Encarnação, doando um terreno junto às Portas de Santa Catarina;
1697 - execução das molduras para as telas laterais da igreja, da autoria de Matias Rodrigues de Carvalho; conceção da capela-mor por João Antunes;
1698 - fundação da primitiva Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, edificada por iniciativa de D. Elvira Maria de Vilhena, condessa de Pontével (pelo seu casamento com D. Nuno da Cunha e Ataíde) e dama da rainha D. Catarina de Bragança, em substituição da primitiva ermida do Alecrim (na qual se instalara a sede da paróquia, saída da igreja de Nossa Senhora do Loreto, em 1651);
séc. 18 - pintura de um teto perspetivado por Giulio Cesare Theminé;
1708, 06 setembro - inauguração do imóvel; trasladação para o local dos restos mortais de D. Nuno da Cunha Ataíde;
1710 - obras no altar de São Miguel pelo entalhador Matias Rodrigues de Carvalho;
1711, 06 agosto - José Nunes Monteiro, entalhador encontrava-se preso por não concluir atempadamente a obra de talha da Capela de São Gonçalo de Amarante, estando o seu sogro, o entalhador José Antunes a terminá-la como fiador da obra (FERREIRA, 2009, vol. I, pp. 66);
1712, 24 janeiro - a administração do templo foi entregue à Irmandade do Santíssimo; 1718 - falecimento de D. Elvira;
1731 - verifica-se a necessidade de restaurar o estuque, em muito mau estado; é chamado para restaurar as pinturas do teto o pintor António Pimenta Rolim (1689-1750);
1753, janeiro - é sepultado na igreja o segundo conde das Galveias, D. André de Melo e Castro, falecido no dia 23 desse mês e morador na Rua do Alecrim (então Rua do Conde);
1755, 01 novembro - o terramoto e, sobretudo, o subsequente incêndio, destroem completamente a igreja;
1768 - projeto do arquiteto Manuel Caetano de Sousa (1742 - 1802) para a reedificação da igreja, entregue ao mestre-de-obras Joaquim Madeira;
1769 - início das obras;
1781 - pintura do teto por Simão Caetano Nunes (1719 - 1783), sendo a pintura da sacristia entregue a Francisco de Setúbal e os corpos pintados por João Tomás;
1784 - conclusão das obras; pintura do teto da capela-mor por Gaspar José Raposo; março - a igreja é aberta ao culto, embora a construção não se encontre concluída; 1786 - 1787 - trabalhos de decoração do interior, pelo mestre entalhador António Ângelo, pelo dourador António Ferreira e pelos pintores Luís Alvez e Gregório Nunes; 1802, 18 junho - um incêndio provoca estragos no edifício que determinam o seu encerramento ao culto; sucede-se a reconstrução, dirigida pelo mestre Teotónio da Silva Coelho;
1803 - feitura da imagem do orago por Nossa Senhora da Encarnação, pela escola de Machado de Castro; 1806 - reabertura ao culto;
1824, 07 dezembro - contrato para a pintura do teto com José António Mateus;
1826 - execução do órgão por António Xavier Machado e Cerveira, o seu n.º 98;
1826 - 1827 - pintura dos altares por João Rodrigues, sendo as molduras douradas por Manuel das Neves; pintura dos ornatos por João Carlos Leoni;
1835 - conclusão da cornija da fachada principal, tendo até então possuído um remate superior grosseiro, sem torres, estando os sinos instalados sobre o corpo de uma pequena sacristia que se erguia a nascente;
1873 - conclusão das obras;
1890 - revestimento azulejar da fachada lateral (virado à Rua do Alecrim) com azulejos; 1895 - limpeza e pinturas exteriores na Igreja de Nossa Senhora da Encarnação;
2000, junho - nas obras de beneficiação do edifício optou-se por retirar o revestimento azulejar, face ao perigo que constituía o descolamento das peças, intenção travada pela Câmara Municipal de Lisboa por a obra carecer de licenciamento.

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