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GPS 38.475316647801435, -8.993337615344165
Construído no século XVI, o Convento da Arrábida, abrange, nos seus 25 hectares, o Convento Velho, situado na parte mais elevada da serra, o Convento Novo, localizado a meia encosta, o Jardim e o Santuário do Bom Jesus.
No alto da serra, as quatro capelas, o conjunto de guaritas de veneração dos mistérios da Paixão e algumas celas escavadas nas rochas formam aquilo a que convencionou chamar-se o Convento Velho.
O convento foi fundado em 1542 por Frei Martinho de Santa Maria, franciscano castelhano a quem D. João de Lencastre (1501-1571), primeiro duque de Aveiro, cedeu as terras da encosta da serra.
Anterior à construção, existia onde é hoje o Convento Velho, a Ermida da Memória, local de grandes romarias, junto da qual, durante dois anos, viveram, em celas escavadas nas rochas, os primeiros quatro frades arrábidos: Martinho de Santa Maria, Diogo de Lisboa, Francisco Pedraita e São Pedro de Alcântara.
D. Jorge de Lencastre, filho do 1.º duque de Aveiro, continuou as obras mandando construir uma cerca para vedar a área do convento. Mais tarde, seu primo D. Álvaro, mandou edificar a hospedaria que lhe servia de alojamento e projectou as guaritas, na crista do monte, que ligam o convento ao sopé da montanha, deixando, no entanto, três por acabar. Por sua vez, D. Ana Manique de Lara, nora de D. Álvaro, mandou construir duas capelas, enquanto o filho de D. Álvaro, D. António de Lencastre, mandou edificar, em 1650, o Santuário do Bom Jesus.
Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o convento, as celas e as capelas dispersas pela serrania sofreram várias pilhagens e enormes estragos causados pelo abandono.
Em 1863, a Casa de Palmela adquiriu o convento, mas as obras só começaram nas décadas de 40 e 50 do século seguinte. Quarenta anos depois, em 1990, o seu então proprietário, Manuel de Souza Holstein Beck, vendeu o convento e a área envolvente, num total de 25 hectares, à Fundação Oriente, a única instituição, que, no seu entender, dava garantias de manter os valores com que, no século XVI, os seus antepassados o haviam entregue aos arrábidos.
Descrição
Complexo formado por dois núcleos murados: o do convento velho, com a capela da Memória e a de Santa Catarina e a pequena ermida de Jesus; e o do convento novo, de maiores proporções, integrando o aglomerado das construções conventuais, do lado O., implantadas em plataformas amparadas por muros de suporte, para N. da igreja e ainda a capela de Bom Jesus, a E., numa plataforma superior e rodeada por átrio murado com escadaria; possuindo fora do circuito murado as capelas de São João do Deserto e de São Paulo e ainda as várias ermidas alinhadas encosta abaixo, a seguir ao convento velho. CONVENTO NOVO de planta composta por vários corpos retangulares e quadrangulares articulados em plataformas ascendentes separadas por escadinhas, adossados entre si ou isolados. Volumes prismáticos, articulados ou simples, com coberturas diferenciadas em telhados de quatro e duas águas. Na plataforma inferior a igreja é antecedida por dois átrios abertos e alinhados pelo eixo da nave, (o cemitério de terra batida e sem lápides, com ciprestes, o adro empedrado) com escadas de comunicação, rodeando maciços rochosos (o da entrada com a estátua de São Pedro de Alcântara em oração, um outro com gruta escavada com a imagem de Santa Maria Madalena). A igreja tem a fachada terminada em empena, com friso e cornija, coroada por cruz latina sobre acrotério, e é rasgada por dois vãos simétricos, em arco abatido sobre pilastras, o da esquerda entaipado, e o da direita dando acesso a um endonártex; entre os vãos surge, sobre amplo globo terrestre e pisando um dragão, a imagem de vulto de um frade arrábido, de braços abertos em cruz, com um círio na mão direita e um cilício na esquerda, os olhos vendados, um cadeado na boca e uma fechadura no peito, emblema das virtudes da congregação. Superiormente, sobre os arcos existe painel de azulejos policromos, com Adoração de Custódia (esquerda), e janela de peitoril moldurada e com caixilharia de duas folhas (direita), e, ao centro, abre-se nicho, em arco de volta perfeita, sobre pilastras, albergando a imagem de Nossa Senhora da Arrábida, protegida por porta envidraçada e tendo com a porta da igreja em frente inferiormente avental volutado. Sobrepuja o nicho a inscrição "IHS" em embrechados. No endonártex dispõe-se, em frente, a porta da igreja, e um vão de acesso a um corredor escuro paralelo à igreja, terminando em nicho com a imagem de vulto de Cristo em oração no Horto (com painéis de azulejo de santos e eremitas da Ordem nas paredes). A igreja tem planta retangular composta por nave e capela-mor, a O., cobertas por abóbada a berço abatido, tendo adossado sacristia e anexo retangular a S.. A nave tem coro-alto, com guarda em tabuinhas de madeira, que comunica o resto do convento por escada íngreme, e arco triunfal abatido sobre pilastras; na capela-mor abre-se tribuna de dupla arcada, uma delas entaipada, comunicando com uma sala no patamar superior à igreja. Rasgada na rocha, sob o embasamento da capela-mor, fica a fonte da Samaritana dentro de um nicho coberto por abóbada a berço. No enfiamento da cabeceira, desenvolve-se o jardim de São Pedro de Alcântara, com a capela de Nossa Senhora da Piedade ao fundo, antecedida por nicho rasgado na rocha, comunicando com o patamar inferior, em que se alinham duas outras capelinhas e com as instalações conventuais nos patamares superiores: celas individuais, refeitório, biblioteca, sala do capítulo, cozinha, forno, instalações sanitárias, em construções de diferentes volumes, cobertas com telha vã, à exceção da biblioteca e sala do capítulo, com teto em caixotão; num dos patamares, antecedida por átrio aberto com esteios em que assentava uma pérgula, fica a casa do bispo, atualmente adaptada a auditório; três capelinhas e vários nichos escavados na rocha integram-se no complexo, em patamares diferentes. A CAPELA DO BOM JESUS implanta-se ao centro de um pátio que se prolonga para O. por escadaria, antecedida por portal de verga reta e frontão de volutas, aberto no muro circundante; na parede da plataforma que antecede a capela, surge silhar de azulejos azuis e brancos, com painéis setecentistas alusivos ao milagre de São Simão Estelita, com restos de um conjunto escultórico comemorativos do mesmo milagre na plataforma. A capela apresenta planta centralizada, quadrada, com ângulos recortados e curvos, coberta por cúpula oitavada, rematada por cupulim, revestida a azulejos enxadrezado azuis e brancos. A capela é formada por dois corpos sobrepostos, o inferior de base maior e paredes em talude, com encadeado em relevo no topo, rasgado por quatro portas de acesso a um espaço central, coberto por abóbada abatida, definindo uma cruz grega; o superior, de base menor, tem as fachadas aprumadas, definidas por pilastras, coroadas por pináculos sobre acrotérios circulares, rematadas em entablamento, e rasgadas por quatro portas de verga reta, encimadas por janelas jacentes, abrindo para uma varanda circundante, com guarda em ferro. No INTERIOR tem espaço central, percorrido por silhar de azulejos setecentistas com grinaldas, coberto por cúpula sobre trompas, e com quatro altares rodeando um trono central em talha dourada com uma maquineta no seu interior.
Cronologia
1250 - data da construção na zona do convento de uma pequena ermida dedicada a Nossa Senhora da Arrábida, por Hildebrando, mercador inglês, em ação de graças pelo milagre que o salvou de um naufrágio;
1539 / 1542 - construção do convento, patrocinada pelo 1º Duque de Aveiro, D. João de Lencastre, que o doa a Frei Martinho de Santa Maria, frade franciscano espanhol, que aí desejava viver como eremita;
séc. 16, 2ª metade / séc. 17, 1ª metade - o 2º e o 3º duques de Aveiro continuam a construção do convento, com edificação da hospedaria e estações dos Passos da Via Sacra; a nora do 3º Duque patrocina a construção das capelas de São Paulo e de São João do Deserto;
1619 - é sepultado na igreja o monge Frei Agostinho da Cruz, que habitou o convento e ficou conhecido como grande poeta da Arrábida;
séc. 17, meados - o 4º Duque de Aveiro manda construir o santuário do Bom Jesus;
1670 - 1676 - edificação do forte de Nossa Senhora da Arrábida, por ordem do regente D. Pedro, para proteger o convento dos ataques dos piratas;
1729 - re-edificação da Capela do Bom Jesus;
1798 - reconstrução do forte;
1834 - extinção das Ordens Religiosas, levando os frades a abandonar o convento;
1863 - compra do convento pelos duques de Palmela;
1990 - venda do convento à Fundação Oriente